À criança que morreu hoje não lhe vi os braços pequenos a caírem de braços maiores nem pernas finas como ramos ao vento sendo o vento o ritmo dos passos de quem ainda vive e a leva ao colo. A criança que morreu hoje só a vi no rosto do irmão que também é uma criança e que a desenhou a lágrimas, choro e gritos. Mas claro que a sei como não a saber, depois de tantos dias, semanas e meses de saber embora dela só tenha visto o irmão em quem o ecrã parou e depois dele nada mais se viu como se esta criança falasse muito e alto sem nada dizer do milagre que todas são porque o ecrã parou nela e mesmo eu a carregar em vários botões, a mudar e a desligar o ecrã ficou aceso e preso a um rosto contorcido que eu não conheço um rosto escuro de pele e branco de pó mas que no rasgo dos lábios ou na forma como os olhos gritam eu afinal reconheço embora não conheça uma única criança em cima de cujo corpo se permita derrubar um edifício de cinco andares ou três ou dois ou um de propósito. Foi talvez neste reconhecer que o ecrã parou ou talvez seja que esta criança não seja especial mas só mais uma debaixo de um edifício de cinco andares ou três ou dois ou um e o que se passa é que o ecrã se tem distraído com dois artistas e um circo e talvez se tenha esquecido e não se tenha preparado para o frio de morte que congelou o vidro quando voltou a mostrar.
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E isso, que possamos dizer, "o que eu pude eu fiz" .
Que doloroso Rita, acho que
morremos um bocadinho por dentro todos os dias ao ler estas noticias.
Um dia que os nossos netos nos exijam respostas, como vamos explicar o porque de um mundo que esteve a testemunhar esta tragedia sem fazer tudo para salvaguardar estas criancas 💔