Reflectir sobre o papel da escrita num mundo inquieto
Uma conferência obrigatória, no próximo dia 8 de Março. Palavras e imagens que em nada, e em tudo, têm a ver com ela.
Tenho andado em pulgas para divulgar o que saiu ontem finalmente a público: a iniciativa que o Clube das Mulheres Escritoras, em colaboração com a Fundação José Saramago, vai realizar no dia 8 de Março.

Esboçámos a ideia desta conferência no verão do ano passado, quando decidimos que a nossa segunda revista anual reuniria textos originais em torno da palavra Paz. Batemos à porta da Fundação José Saramago com uma proposta que entusiasmou a todas e que, depois de trabalhada em conjunto, foi recebida com entusiasmo na maioria das portas onde fomos bater.
Dizemos, na apresentação da conferência, cujos detalhes podem ser todos lidos aqui que esperamos “convidar leitores a uma abordagem crítica do que lêem, e escritores, nos quais nos incluímos, a reflectir sobre a responsabilidade e o impacto da palavra escrita”. Os negritos são meus. Da minha parte, tendo feito parte do grupo de trabalho que a pensou de raiz e a foi moldando ao longo de meses, estou impaciente para a ver concretizada, pela relevância do que se vai discutir e por tudo o que vou aprender.
São cinco, os painéis que compõem a conferência. Deixo uma breve apresentação de cada um abaixo sendo que, para mais detalhes, basta clicar na respectiva imagem.
A conferência vai contar ainda com a apresentação da segunda revista anual do Clube, que estará à venda no dia, e encerrará com um breve momento cultural cujos detalhes ainda estamos a ultimar.
Há um limite de lugares presenciais que estão a ser rapidamente preenchidos, pelo que, se quiserem estar presentes, apressem-se a preencher o formulário de inscrição. Vai haver transmissão online, mas é necessária também a inscrição prévia. Cliquem aqui para a inscrição:
Ainda falta muito para Março?
Palavras que nada têm a ver com a conferência, e que têm tudo a ver com ela:
Frases e imagens e mais frases e imagens e mais frases e imagens e mais frases e imagens
Há meses que venho a coleccionar frases e imagens. A cortá-las com o peito e a guardá-las em gavetas desordenadas dentro do meu corpo, numa cartografia impossível. Tardo em organizar tudo, em classificar e ordenar, em juntar tudo num lugar específico e acessível, porque não são frases e imagens às quais quero voltar, mas frases e imagens às quais devo voltar.
A mais recente são as palavras que esta jovem mãe, grávida de oito meses, deixou nas redes sociais:
“To my unborn child, with you, I will become a mother for the first time. I can’t believe how quickly this pregnancy has passed and how you have grown quietly within my womb, waiting for my first joy.”
Palavras simples, que me fizeram voltar atrás e recordar os momentos em que tudo era promessa e poesia. Oito meses de um milagre prestes a acontecer. Foi há treze anos. E foi tão forte, que podia ter sido ontem.
A consciência da desumanidade é mais forte quando as frases ou as imagens nos transportam para momentos íntimos que guardamos em cofres de ouro, adornados a flores eternas, que sabemos serem só nossos, mesmo se iguais àqueles que vivem nas memórias de tantos outros seres de carne, osso e sonhos, conhecidos e desconhecidos.
Os meus oito meses tornaram-se nove. E na ponta deles, na semana exacta, nasceu o meu primeiro filho. E agarrei nele com mãos trémulas de inexperiência e responsabilidade. E fui aprendendo. E hoje vejo-o, orgulhosa e ainda incrédula, a bater à porta da adolescência, a infância feliz a destilar da pele.
A autora das palavras que copiei, Shalabi de seu nome, vinte e três anos a sua idade, e que o meu peito hoje cortou para que eu guarde e não esqueça, porque é importante, eu sei, mesmo que não queira, não chegou a saber o que seria. No dia a seguir a tê-las tecido, com as mãos vulneráveis do sentir, o exército israelita fez o que faz diariamente, com total impunidade, há décadas, nos territórios ocupados da Palestina. O disparo matou-a, feriu o marido, e o (também histórico) impedimento da assistência média assegurou que o bebé morria com a mãe.
Guardo a imagem, as palavras, o sentir.
Guardo a dor, a incompreensão, a injustiça.
Guardo.
Porque me recuso a viver de alma fechada e de luz apagada. Com medo de dar rosto e nome à desumanidade. Porque me recuso a deixá-la sair à rua altiva e desavergonhada, embriagada do meu silêncio.
Fico meia aflita quando vejo e leio o que se esta a passar em Gaza, um dia a humanidade vai ter que responder o porque de nao ter feito nada!